sexta-feira, 8 de junho de 2012

"Só um milagre de Deus para ele estar vivo", conta patrão de caminhoneiro acidentado no Paraná

Tiago Metz relata como ele e familiares de Renato Varela de Oliveira encontraram o morador de São Sebastião do Caí dentro da cabine do veículo quase cinco dias após acidente

Veículo ficou caído em ribanceira na margem de estrada, no norte do Paraná

Encontrado em um matagal de uma rodovia do Paraná na quarta-feira, o caminhoneiro de São Sebastião do Caí, Renato Varela de Oliveira, segue internado no Hospital Carolina Lupion, em Jaguariaíva. Ele passou quase cinco dias dentro da cabine do caminhão que dirigia após sofrer acidente comendo laranjas.

Familiares e o dono da empresa para a qual Oliveira trabalha refizeram o caminhão que ele percorreria e conseguiram chegar ao local do acidente.

Do hotel em que está hospedado em Jaguariaíva (PR), Tiago Metz, dono do caminhão dirigido por Renato, falou  no início da madrugada desta sexta-feira sobre as buscas que resultaram no resgate do caminhoneiro. Leia trechos da conversa: 

Como vocês conseguiram localizar o caminhão?

Tiago Metz — Como a polícia não sabia de acidente nenhum, a gente começou a procurar no meio do mato, achando que ele tinha sido assaltado. O Renato depois nos contou que tentou chamar alguém pelo celular, mas não tinha sinal. Lá da estrada não dava pra ver o caminhão, mas nós entramos no mato e vimos. O caminhão desceu uns 12 metros na ribanceira. Mais uns dois metros pra esquerda e ele teria caído no rio. 

Como estava o Renato quando vocês o encontraram?

Metz — A cabine ficou totalmente destruída. Vi a cabine e pensei: nem gato sobreviveria. Só um milagre de Deus para ele estar vivo. Ele estava consciente e nos contou como tinha sobrevivido comendo laranja. E disse que tinha esperança de ser achado com vida. 

Qual o estado do Renato depois do resgate?

Metz — Ele está bem, está falando. Pelo que informou o hospital, ele está em bom estado, não teve nenhuma fratura.

Como foi o acidente?

Renato Varela de Oliveira
 — Eu voltava de São Paulo. É uma viagem que faço toda a semana para entregar cargas de frutas. Queria ter saído às 18h (de sábado), mas acabei pegando a estrada às 21h. Aquele trecho tem curvas complicadas e, como chovia na hora, o caminhão deslizou na pista. Tentei segurar, mas acabei descendo o barranco. Desci duas ribanceiras e o caminhão parou num lugar praticamente inóspito. A cabine praticamente despedaçou. Era por volta de 1h15min (de domingo).

Você estava cansado no momento do acidente?

Oliveira
 — Um pouco. Pretendia parar para descansar mais à frente. Mas naquela região há poucos postos de combustíveis. O sinal de celular é péssimo, não conseguia contato com ninguém. Via os veículos passando na estrada, mas, daquela altura, era muito difícil alguém enxergar. Choveu em dois dias em que fiquei preso. Ao lado do local do acidente, tinha um arroio e, quando chovia, a água subia até o pescoço.

E como você se sentia preso às ferragens?

Oliveira 
— Achei que não ia sobreviver. Sentia muita dor. Quebrei duas costelas. Como as laranjas caíram para a cabine, conseguia comê-las, pois era fácil descascá-las com as mãos. Porém, a partir da segunda noite, não conseguia mais alcançá-las. Mas na hora da fome a gente faz de tudo. Posso dizer que as laranjas foram a minha salvação.

Como encontraram o senhor?

Oliveira
 — Como eu saí no sábado à noite, no mais tardar chegaria ao Rio Grande do Sul na segunda-feira de manhã. Como eu sumi, saíram à minha procura. Achavam que eu pudesse ter sido vítima de assalto, sequestro... Sorte que eu recém tinha passado pela divisa do Paraná com São Paulo, então eles conseguiram achar uma referência. Eram meu patrão, familiares e mais pessoas que ajudaram nas buscas, além dos bombeiros.

O que aconteceu quando você percebeu que eles estavam por perto?

Oliveira
 — Ouvi as vozes deles. Tentava gritar, mas já estava com a garganta fechada. Daí comecei a bater na lataria do caminhão, fazer barulho. Quem me encontrou foi o meu patrão. Percebi de imediato que era ele. Depois disso foram mais três horas para me retirarem das ferragens.

Qual foi sua reação?

Oliveira
 — Foi um alívio total. Agradeci a Deus. Todo o tempo em que fiquei preso me apeguei em reza. Minha família é muito religiosa. Já considero o meu patrão como parte dela, trabalho com ele há 10 anos. Graças a Deus não era a minha hora.

E você pretende deixar de viajar?

Oliveira
 — Não tenho como abandonar. Vou seguir viajando, talvez tendo mais cuidado a partir de agora. É essa a minha vida.

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